terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Capítulo 4

Advinhava que mais tarde teria coceiras, e lhe virava o estômago a possibilidade dos dentes do fundo estarem à mostra. Monstrela simpatizava com a maneira que desenvolveu para se apresentar ao mundo (até se considerava acima da média, por conta disso). Quando o prazer era muito intenso, os músculos se contraíam, involuntários. E só assim, podia dizer que tinha vergonha.

Olhou embaixo da mesa da cozinha e escancarou a boca. Quando sentiu a baba quente escorrer pelo canto dos lábios, desejou com todas as forças ter uma rabo para abanar. Mas o fogo ainda está acesso. E Monstrela ainda está com fome. Sentou-se novamente à mesa. Misteriosamente, esperou que alguém a servisse.

Os vizinhos esmurravam a porta da frente. Havia uma gritaria intensa no jardim. Certamente algo grave acontecia: as patas dos herbívoros estavam todas viradas para trás. Estralou os dedos das mãos. Arrumou os talheres sobre a toalha felpuda e jogou os cabelos na frente dos olhos. Alguns insetos andavam por suas costas, ainda não sabia quantos. Se divertiu com as cócegas que lhe provocavam, mas não gostou do zumbido nos ouvidos.
Monstrela já não tem mais esperanças

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