sábado, 10 de janeiro de 2009

Capítulo 3

Monstrela sabia disso e, mesmo assim, não resistia a varrer o chão. Tinha pavor de cobras e sentia-se obrigada a medir diariamente a circunferência de suas coxas. O menor sinal de assimetria entre as duas punha-lhe a passar horas usando um chapéu apertado. Para cada milímetro de diferença entre a direita e a esquerda, duas horas de pressão na cabeça.

"Já veio buscar os tomates? Aviso logo que ainda não estão prontos".

A voz rabugenta vinha do andar superior da casa, mas Monstrela não via nada no topo da escada. Mesmo que se esforçasse, a escuridão se mantinha impassiva. Queria explicar que estava enganada. Pedir que não desse importância para o que estavam falando. Queria dizer que não é nada disso. Sinto muito, senhora, são minhas orelhas que pesam demais. Por favor, me desculpe.

Um cheiro delicioso e arrebatador chama a atenção de Monstrela para a cozinha: pêras cozidas. Vira-se em direção ao encantamento. Sente o coração transbordar de alegria e morre. Sorri e prepara-se para encher a barriga. No fogão à lenha, um caldeirão borbulha e uma fumaça sem cor evade.

Monstrela já não tem mais esperanças.

Um comentário:

  1. Nossa, meus ouvidos vazaram amor com essa história. Puxa, obrigado, Monstrela. Eu amo você.

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