segunda-feira, 16 de março de 2009

Capítulo 1 - TEMPORADA II

Entrou no palco vestindo apenas uma manga. Molhada. Era comprida, mas ainda partes do corpo ficaram à mostra. Não era pela transparência do tecido, algumas partes estavam nuas mesmo, sem nada que lhes cobrissem.

Riram-se dela, todos.

Tinha marcas de preguiça. A pele um pouco solta, os pêlos um tanto ralos. Na barriga tinha dobras e na testa tinha sulcos. A platéia achou grotesco - de mal gosto aparecer pelada e feia. Mas Monstrela não se importa. Não é que já não tivesse notado, ou que confundisse aquela cena com algo bonito. As manchas apareciam de forma bastante evidente e Monstrela enxergava bem, de perto. Sabia que não era o que, em condições de certeza, chamaria de atraente. Não estava enganada de nada, o caso é que ela não conseguia desgostar. Não que fosse por deslumbre, ou fascínio, mas os frisos brancos nos seios da moça pareciam repuxar os bicos e Monstrela não conseguia tirar os olhos deles. Às vezes até torcia para que saísse leite, mas não chegou nem a tentar, ficou com medo de passar vergonha. Sabia que podia levar uns tapas. Então, sequer se moveu na cadeira. Preferiu ficar imaginando... tetas moles jorrando leite. Acompanhou de longe aqueles mamilos até o final do espetáculo. Podia ser que estivesse apaixonada, quem sabe.
Quando a bailarina deixou as luzes, sentiu a dor de uma despedida. Esqueceu-se que podia chorar e, para aliviar-se, abriu os lábios e passou a língua para senti-los.

Monstrela já não tem mais esperanças.

3 comentários:

  1. Cristo abençoado! Muito tenso, muito forte. Imagens poderosas. Eu gostei. Monstrela voltou melhor ainda. Nos anos 70, isso viraria música do David Bowie.

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  2. Brincadeira! Parece uma coisa meio David Lynch, meio aquelas escritoras feministas brasileiras dos anos 70!

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  3. Monstrela!!! Vc voltou!!!
    Ahhh!!! Que alívio!
    =D

    Ass: Alien, o 8º passageiro

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